Nos tempos que correm, a participação dos pais nas atividades dos filhos é frequente e salutar. Esta participação é feita a todos os níveis: escolar, social, desportiva ou lúdico. Para isso devem tanto os pais como os filhos sentir-se agradados com a presença de ambos e não serem motivos de «stress».
A verdade é que, na maior parte das vezes, os pais não estão preparados para serem pais de atletas. A vida altera-se quando o filho entra no desporto e muita da rotina familiar é feita em função dos horários desportivos do filho. Deve-se ainda acrescentar que os fins-de-semana são também condicionados pela participação do filho na competição. Daí inúmeras vezes os pais se indignarem pela pouca ou nenhuma utilização do filho no jogo. O «stress» a que se sujeitam e para o qual não estavam minimamente educados é frequentemente causador de conflitos. Os clubes têm de entender e preparar‑se para estas situações.
A maioria dos conflitos entre pais e treinadores diz respeito ao tempo de jogo que o filho tem ou o facto de não ser convocado. É das situações mais difíceis de gerir pelo treinador. O jogo é sempre a parte visível e aquela a que os pais dão importância. Relevam os treinos quando estes são muito mais importantes, por serem preparados especificamente para o grupo, para a evolução individual e dinâmica do grupo.
Devem os pais incentivar os filhos a dedicarem-se, a superarem-se. Devem conhecer o projeto do clube, bem como os recursos físicos e humanos para que possam fazer a melhor escolha. Não devem alimentar facilitismos e andar sempre a mudar de clube quando este lhes cria ilusões que depois não se concretizam.
Sem se aperceberem, não raramente os pais são uma fonte enorme de pressão para os jovens atletas ao quererem sempre que os filhos tenham um bom comportamento e sejam o seu próprio prolongamento. Quando isto acontece, os pais usam os filhos como troféus para se valorizarem a si mesmos. Temos então pais «vitoriosos» e «derrotados», com todas as consequências negativas que esta pressão pode causar nos filhos. São derrotas e vitórias por procuração, procuração essa que ninguém lhes solicitou, ninguém lhes concedeu e que a ninguém beneficia.
Os pais têm ambições para os seus filhos, mas devem aceitar o facto de não poderem definir todos os aspetos da sua vida eternamente. Como queremos que um treinador fale aos atletas de espírito desportivo, superação e mérito, se são os próprios pais os primeiros a desrespeitar estes valores?
«Estes pais deixam de ser buscadores de sonhos para serem assassinos de sonhos», Hernâni Carvalho
Temos de, uma vez por todas, envolver os pais na realidade dos clubes, fazendo-os perceber a dinâmica dessa organização, para que possam colaborar na prática desportiva de uma forma mais assertiva.
Existirá sempre nesta prática o perigo de um envolvimento abusivo, que pode resultar em conflitos e destabilização quer do filho, quer da equipa. A participação já existe e sem muitas regras. Os pais assumiram a «gestão» da formação dos clubes, porque estes faliram e se desinteressaram dessa atividade. É consensual que o entendimento e a comunicação entre clube, pais e atletas é um benefício acrescido na formação pessoal, desportiva e social dos jovens.
Felizmente começam a proliferar bons exemplos. Os pais começam a ser «polícias» de outros pais e os treinadores com agenda própria reduzem-se a meia dúzia de clubes sem projeto. Os diretores já começam a perceber onde começa e acaba a sua função diretiva. Os clubes já começam a promover uma participação positiva com a integração da família no contexto desportivo do filho.
Comunicar, com respeito, é sempre a melhor solução e teremos pais 5 estrelas.
Texto de Vítor Santos
Embaixador do Plano Nacional para a Ética no Desporto
Desenho de Paulo Medeiros