A participação dos jovens no desporto é um tema frequente, existindo, no entanto, um desfasamento entre o que se diz ou escreve e os atos praticados por todos os agentes envolvidos.

Vivemos, cada vez mais, num mundo globalizado, em que a mediatização do desporto profissional ajuda a criar expetativas e transmite uma imagem de que só a vitória e o ser campeão é valorizado. Os insucessos são sempre referidos como incompetência e servem para chacota. As redes sociais são eco de clubites exacerbadas e de falta de cultura desportiva, mesmo por quem tem prática desportiva. Agentes desportivos excedem-se quando a discussão incide sobre o seu clube, sobretudo se for um dos denominados “3 grandes”. Treinadores, atletas e dirigentes tomam como suas as dores dos clubes de Lisboa e Porto, sem se aperceberem do ridículo em que caiem.

Não existem pessoas boas que no desporto são más. Existem pessoas que não sabem comportar-se. Ponto. Não vale de nada estar sempre com a retórica de que “até é boa pessoa, mas no desporto transtorna-se“. Não sabe estar no desporto. A emoção e a paixão que o desporto provoca não servem de desculpa para nada. Quem mata a companheira, também o faz por amor?!!!

É neste ambiente que a formação se desenvolve. É o exemplo que se transmite. Do futebol das redes sociais e dos paineileiros para os campos não existe filtragem.

Daí, também, serem normalmente os pais que vivem os jogos como se fossem eles que estivessem a jogar os que tendencialmente insultam os árbitros, sejam eles árbitros adultos ou, mais absurdo ainda, jovens que estão a iniciar a atividade. Em casa repreendem os filhos quando dizem asneiras e não permitem que se insultem pessoas, mas quando estão no jogo os princípios de educação enunciados em casa desaparecem.

A pergunta da criança é, “mas afinal dizem-se ou não se dizem asneiras?! Insultam-se ou não se insultam pessoas?” Nada é mais educativo que os exemplos, e não é com maus exemplos que melhor educam. Se acreditamos que o desporto para os mais jovens é um processo educativo e formativo, todos devemos contribuir para essa finalidade, a começar pelos pais.

É necessário aprender a conviver com esta realidade: todos somos potenciais desestabilizadores, mas, com valores humanos e uma educação adequada e atempada, podemos enfrentar a situação com êxito e fazer com que esta sucessão de problemas tenha um impacto mínimo.

“Faz o que eu digo, não faças o que eu faço” é um ditado popular que não serve de modelo de transmissão de valores para os filhos, pois o exemplo é o que se apreende e marca.

As crianças apreendem com maior frequência aquilo que vivenciam do que aquilo que lhes é dito. Se forem constantemente confrontadas com maus exemplos, vão acabar por tomá-los como bons, pois é a realidade em que se encontram.

Os pais devem transmitir aos filhos que estes têm de dar o melhor de si mesmos para superar os obstáculos e não esperar que o adversário fraqueje ou que ocorra uma influência externa. O objetivo pode ser vencer, mas todos temos de ser melhores, de evoluir diariamente.

A criança/jovem tem direito, tem mesmo a necessidade, de sonhar. O crescimento implica várias fases. O sonho está, e deve estar, sempre presente no seu desenvolvimento. O sonho começa a traçar um caminho, estimula a criatividade e abre novos horizontes.

Uma meta que possa não ser alcançada não é definitivamente um fracasso. Nem sempre somos os melhores. O campeão não é o que não cai, mas sim o que se levanta a seguir à queda.

 

Vítor Santos

Embaixador do PNED