Aquando das primeiras medidas de confinamento devido à situação pandémica em Portugal, o pessimismo económico alastrou-se a todas as áreas de atividade. Com efeito, e de forma sustentada, a maioria dos analistas apontava para cenários verdadeiramente catastróficos, à medida que empresas paravam, empregos eram aniquilados e a liberdade de movimentos conforme conhecida, suspensa.

Sendo este um dos cenários onde quaisquer previsões seriam sempre especulativas, existiram sectores da economia que não apenas aguentaram o embate de todos os desafios que 2020 apresentou como, inclusive, os superaram em crescimento.

 

Um Caso de Estudo

 

Os mais recentes dados presentes no barómetro anual da Imovirtual indicam precisamente o percurso positivo do imobiliário em Portugal ao longo de um ano pleno de desafios.

Os preços médios de venda a nível nacional registaram um aumento de 1,6% passando de €342.783 para €348.223. Existem ainda no decorrer deste ano atípico alguns detalhes estatísticos que são pertinentes de reter.

De forma a colocar os dados sob perspetiva, foi efetuada a comparação de momentos específicos relacionados com a pandemia com a mesma altura do ano de 2019.

Desta forma, podemos realçar o seguinte:

  • – Aumento do preço médio em 8% nos meses anteriores ao confinamento quando comparado com o mesmo período de 2019 (€318.951 para €344.147)
  • – No período referente ao confinamento, os preços aumentaram 11,3% (€316.657 em 2019 para €352.339 em 2020);
  • – Após a fase de confinamento, o aumento registado foi de 7,2%;

 

O efeito da pandemia não foi, portanto, tão catastrófico quanto se antevia. Ainda assim, no decorrer de 2020 os preços acabaram por não ter um ritmo galopante de crescimento equivalente ao que até então se verificava.

 

Arrendamento em Decréscimo

 

No sentido contrário, o segmento do arrendamento sofreu um impacto igualmente digno de atenção. Os valores médios praticados a nível nacional têm vindo a decrescer acentuadamente.

Os dados presentes no barómetro do imobiliário revelam o seguinte:

  • O período antecedente ao confinamento registou uma quebra de preços de -9,6% (€1.317 em 2019 para €1.191 em 2020);
  • Durante o período do confinamento, a quebra acentuou-se para -13,3%;
  • Após o confinamento, os preços afundaram para -20,9% quando comparados com igual período do ano de 2019. A quebra é assinalável passando de €1.355 para €1.072.
  • O ano de 2020 termina com uma diminuição dos preços do arrendamento num global de -13,5% passando de €1.198 em 2019 para €1.036.

Estes valores em muito derivam da ausência de movimento turístico, levando a um excesso de oferta num mercado que estava sob pressão por parte da elevada procura. Muitos proprietários vendo-se privados dos rendimentos provenientes do AL (Alojamento Local), reconverteram os seus imóveis para os colocar no mercado de arrendamento a médio e longo prazo.

 

Independentemente dos resultados para 2021 no que respeita ao imobiliário, persistem alguns motivos para otimismo. Nomeadamente, por se ter comprovado a notável resiliência deste sector, ao qual acresce o caráter temporário – assim se espera – da pandemia e das restrições que a mesma impõe às nossas vidas.

Há ainda que olhar para o horizonte numa perspetiva mais alargada e moderada enquanto aguardamos pelas consequências do impacto económico que os períodos de confinamento invariavelmente trarão. Se o turismo regressar em força e os apoios económicos forem bem estruturados e estrategicamente aplicados, a prosperidade do mercado imobiliário poderá manter-se e replicar-se em inúmeras outras áreas da economia nacional.