O regresso às aulas é um verdadeiro teste à organização familiar. Entre horários apertados, mochilas prontas e a pressão das responsabilidades, o stress e a ansiedade instalam-se tanto nos pais como nas crianças. No entanto, pequenos ajustes podem fazer toda a diferença. Com as estratégias certas, é possível transformar este período desafiante num momento de equilíbrio, reduzindo o caos e promovendo um ambiente mais sereno. Está na hora de transformar a ansiedade do regresso às aulas numa oportunidade para crescer em harmonia.
1. A Organização é importante, mas não vai resolver tudo
O início das aulas traz a inevitável vontade de organizar todos os pormenores: listas de tarefas, horários e planos para garantir que tudo corre na perfeição. Mas, sejamos realistas: por mais que tudo esteja planeado, nem sempre corre como esperado. Pequenos detalhes inesperados podem mudar o cenário rapidamente.
A chave aqui é simples: planeie, mas deixe espaço para o inesperado. Defina o que é essencial e permita que o restante flua naturalmente. Acredite, quando se permite flexibilidade, o stress diminui e a necessidade de controle desaparece. E adivinhe? As crianças também sentem essa diferença.
2. Criar rotinas saudáveis: sem sono, não há sucesso
Um fator que não pode ser negligenciado é o sono. As rotinas são, sem dúvida, essenciais, mas aquelas que não garantem horas suficientes de descanso são uma receita para o desastre – tanto para si como para os seus filhos. Entre os horários das aulas, as atividades e o tempo para os trabalhos de casa, é fácil esquecer que o sono é o ingrediente secreto que faz tudo funcionar.
Aqui, é crucial ajustar as rotinas para assegurar que há tempo para descansar. Quanto mais descansarem os seus filhos, melhor enfrentarão as exigências escolares. E acredite, o mesmo se aplica a si.
3. Cuide de si: o autocuidado não é um privilégio, é uma necessidade
Quantas vezes já ouviu falar da importância do autocuidado? E quantas vezes realmente aplica isso na sua vida? Na prática, os pais costumam colocar-se em último lugar nas prioridades, o que torna tudo mais difícil. Quando está exausto, torna-se mais impaciente e menos capaz de ajudar os seus filhos a gerir as suas próprias emoções.
Por isso, ao invés de se sentir culpado por reservar 10 minutos para si, lembre-se de que esse tempo pode ser exatamente o que precisa para voltar mais calmo e capaz de lidar com o caos. Dê uma pequena caminhada, leia durante alguns minutos ou desfrute de um banho relaxante. Não é egoísmo – é estratégia!
4. Ouça os seus filhos com o poder de ouvir sem julgar
As crianças, tal como os adultos, têm preocupações e ansiedades que podem não expressar diretamente. O regresso às aulas pode ser uma fase de grande incerteza – novos colegas, professores diferentes e expectativas a cumprir.
O truque é resistir à tentação de resolver imediatamente todos os problemas que eles lhe trazem. Muitas vezes, o que realmente precisam é de ser ouvidos. Pode parecer simples, mas quando os ouvimos sem tentar corrigir ou oferecer conselhos imediatos, proporcionamos um espaço onde se sentem compreendidos e seguros.
Experimente o seguinte: quando o seu filho lhe contar que o trabalho de casa foi “muito difícil” ou que alguém foi “chato” na escola, em vez de começar logo com soluções (“E porque não tentas…?” ou “Da próxima vez, faz isto…”), tente algo mais simples como: “Entendo que isso tenha sido frustrante e te esteja a preocupar”. Muitas vezes, só precisam de validar os seus sentimentos e isso é meio caminho andado para reduzir a ansiedade.
5. Foque-se no processo, não apenas nos resultados
As primeiras avaliações podem ser um sufoco. Quer que os seus filhos tenham sucesso, claro, mas também é fundamental não deixar que as notas se tornem a única métrica de sucesso. O esforço, a dedicação e a capacidade de aprender com os erros são muito mais importantes a longo prazo.
Elogiar este esforço, em vez de se focar nos resultados, ajuda a criança a entender que o processo é o que mais conta. Além disso, retira-lhes uma pressão enorme que, muitas vezes, só gera mais ansiedade. Lembre-se: o sucesso não é um sprint, é uma maratona – e a resiliência é o que mais importa no fim.
6. Desligue para reconectar
Vivemos num mundo onde o barulho digital nunca para. As notificações, e-mails e mensagens competem continuamente pela nossa atenção. Contudo, no meio de tanta “conexão”, o tempo em família pode ficar em segundo plano.
Reserve momentos do seu dia para desligar. Um jantar sem telemóveis, uma caminhada ao final do dia ou alguns minutos de conversa no sofá podem ser tudo o que precisa para recarregar energias e fortalecer a ligação emocional com os seus filhos. Afinal, em meio a tantas exigências, é fácil esquecer o que realmente importa: estar juntos.
O regresso às aulas não tem de ser sinónimo de ansiedade. Com pequenos ajustes e um pouco de flexibilidade, é possível transformar este período num momento de crescimento e adaptação, tanto para as crianças como para os adultos. No final do dia, o mais importante é lembrar-se que precisa de estar presente. A chave está em encontrar um equilíbrio entre as exigências da rotina escolar e o bem-estar emocional da família. Quando os pais se permitem respirar e ajustar as suas expectativas, conseguem transmitir mais tranquilidade e segurança aos seus filhos.
Lembre-se: não é sobre ser perfeito, mas sim sobre estar presente.
Joana Pinheiro
Psicóloga no Hospital da Cruz Vermelha
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