Palavras com sentimento e alma. Ação tocante e consequente. Dois pilares da vida de Jorge Coelho, num sustentado compromisso com o país, os amigos e a sua terra.
As palavras fluem com dificuldade perante a perda de alguém que foi sempre mais do que um amigo, sempre mais do que um político do meu partido. Era um ser humano marcante e inspirador, próximo das pessoas e da realidade do país, sempre genuíno e portador da identidade das suas raízes e de uma experiência de vida rica, intensa e com obra.
Na política, poucas vezes as palavras ganham a alma e o alcance de empolgar, de emocionar e de mobilizar. Ele fazia-o como ninguém, sintonizado com as pessoas e com as realidades de um país que via como um todo, a merecer impulsos de reforço da coesão social e territorial. Jorge Coelho era a alma na política e a política com alma, com foco no que interessa: as pessoas e os territórios.
Na política como na vida, as ações são a concretização das ideias e das palavras ditas, tantas vezes com o coração e a razão a temperar. As marcas concretas da sua ação estão aí, nos mais diversos quadrantes e pontos do país. Sempre o assumi como modelo de uma forma de estar na vida pública, próximo das pessoas, do que são, do que sentem, dos seus problemas e sonhos. Um hino às relações humanas e à arte de somar vontades, saberes e competências para concretizar respostas e soluções.
Enquanto paira sobre nós a realidade brutal e incontornável de não voltarmos a ter mais as suas palavras, as suas ações e a energia positiva do impulso certo no momento que vivíamos, brotam da memória experiências únicas vividas e inspirações que temos a obrigação de honrar.
Sim, é possível contribuir para valorizar o Interior, gerar mais valias a partir dos produtos regionais e transformar a realidade do potencial produtivo das nossas regiões, projetando-as para gerar melhores condições de vida, como fez na queijaria que criou em Mangualde.
Sim, é possível ter intervenção política e pública com marcas positivas no país e em setores como a Administração Interna ou as Obras Públicas, mantendo um sentido de transformação positiva das realidades num quadro de compromisso com a ética e os valores, em espírito de serviço público.
Sim, é possível divergir, empolgar na afirmação das ideias, ser frontal na intervenção política, sem perder a capacidade de manter pontes com quem pensa diferente e mobilizar vontades para construir compromissos, a bem do interesse geral.
É possível sermos melhores, fazermos mais e tocar as pessoas e os territórios com energia positiva, empolgar em torno das ideias ou das ações. Esse legado único e incontornável de Jorge Coelho sempre teve em mim um humilde seguidor, desde o tempo da amizade com o meu pai.
Tocados pelos caminhos que percorremos em conjunto, pelos ensinamentos e pela ambição que sempre colocou no que fazíamos, somos impelidos a transformar o choque e o vazio na obrigação de sabermos dar sentido à sua vida inspiradora, pela ação em todas as latitudes, todos os momentos e espaços.
Essa é uma luz que nunca se apagará. Estará sempre presente em quem teve o privilégio da sua amizade para dar mais força às ideias e à ação, com alma e proximidade, como gostava. E nós também.
Jorge Coelho deixa um legado cívico e político inspirador. Ser herdeiro desse património de intervenção e de concretização é querer uma sociedade melhor, um Interior mais desenvolvido e um país mais coeso. É fazer o que ele sempre fez, de Mangualde a Lisboa, de Setúbal a Macau. Sempre a tocar as pessoas, a fazer e a inspirar.
Artigo de João Azevedo* Deputado na Assembleia da República e Ex Presidente da Câmara Municipal de Mangualde Ao Semanário Expresso
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